Se você ainda não assistiu o filme “Joy, o nome de sucesso”, não perca tempo. É fato, todo empreendedor deve assistir esse filme. Lançado no Brasil em 21 de janeiro de 2016, conta com atores de sucesso em seu elenco como Jennifer Lawrence, Robert De Niro e Bradley Cooper. O filme conta a história real de Joy Mangano, empreendedora americana de sucesso conhecida por uma série de invenções e titular de 58 patentes protegidas nos EUA.
Vivida por Jennifer Lawrence, Joy é no ínicio do filme uma mãe solteira que pausou sua vida para cuidar da família, mas que desde criança teve uma mente muito inventiva. Após ser despedida e ficar muito endividada, ela percebe que precisa achar uma saída para essa situação. É quando ela inventa um esfregão, a partir das suas necessidades do dia-a-dia, que é mais prático e seguro. E então Joy passa a correr atrás para garantir a produção e distribuição de sua invenção.
Porém, como todo empreendedor bem sabe, essa jornada não é nada fácil. Joy enfrenta vários obstáculos, pouco apoio da própria família e vários empecilhos, como terceiros querendo se aproveitar e até mesmo ganhar crédito por sua invenção.
Além de ser um filme cheio de ensinamentos para quem é empreendedor, o filme Joy é um ótimo exemplo da importância de pensar em propriedade intelectual logo no começo do empreendimento! Nesse embalo, identificamos abaixo pelo menos 5 valiosas lições de propriedade intelectual que podemos aprender com o filme.
1. Mais importante do que uma boa ideia é a execução.
Joy quando adolescente inventa uma coleira de cachorro com várias funções interessantes. Devido à falta de recursos e apoio ela não dá sequência no projeto, não protege por patente a invenção e não coloca o produto no mercado. Muitos anos depois, ao pensar novamente nesse assunto, Joy perdeu o “timing” e a corrida pois descobre que a empresa Hartz Company já tinha protegido algo muito parecido. Joy aprende aqui uma importante lição, se ela quiser ver a sua invenção no mercado e melhorando a vida de mais pessoas, é preciso partir o quanto antes para a execução, ou outros farão antes e melhor do que você.
2. Tão importante quanto proteger sua propriedade intelectual é preciso saber se você não está infringindo direitos de terceiros.
A madrasta de Joy decide investir, a pedidos do pai da personagem, no projeto. Mas muito sabiamente decide consultar advogados para saber se a invenção de Joy já estaria no estado da técnica ou se não infringiria direitos de propriedade intelectual terceiros.
Todo investidor cauteloso e diligente vai querer saber se não terá que lidar com ações por infração de propriedade intelectual, ou se não terá outros concorrentes produzindo e vendendo o mesmo produto. Essas informações valiosas e que ajudam na tomada de decisão do investidor são obtidas em uma análise de freedom to operate que sempre contarão com uma busca de anterioridade de patentes.
A única falha de Joy, nesse caso, foi acreditar nas informações trazidas por advogados que não eram especializados em propriedade intelectual e – spoiler alert – acabaram comprometendo muito da sua operação.
3. A importância de um advogado e conselheiro de confiança.
Os advogados contratados pela madrasta de Joy não eram de confiança da empreendedora e tampouco eram especialistas em propriedade intelectual. Com isso, a informação de que a propriedade intelectual sobre a invenção de Joy já estaria protegida nos EUA tenha sido equivocada.
Essa informação errada foi responsável por infinitos problemas para Joy. Ela aceita um acordo de pagamento de royalties – que não eram devidos – que leva a empresa a comprometer muito dinheiro de receita já no início das operações, comprometendo seriamente o seu fluxo de caixa. Ainda descobre que seu fornecedor das peças do esfregão, consciente de que não havia patente sobre aquela invenção, passa a copiar, produzir e vender seu esfregão sem a sua autorização.
4. Territorialidade da proteção da propriedade intelectual.
A patente encontrada pelos advogados era de um empresário em Hong Kong que até o momento não havia protegido a tecnologia nos EUA. Tratava-se, de fato, da patente de um esfregão muito similar ao da Joy, sendo então uma anterioridade impeditiva caso ela decidisse patentear sua invenção. Isso quer dizer que, como já havia essa anterioridade, não seria possível uma patente daquela invenção.
No entanto, Joy não estava impedida de produzir e comercializar o esfregão nos EUA, já que a proteção do empresário de Hong Kong não se estendia aos EUA. Isso pois patentes são regidas pelo princípio da territorialidade.
Infelizmente, devido a essa má-compreensão Joy caiu em um golpe de supostos representantes da tecnologia que cobraram royalties indevidos para que ela pudesse vender seu esfregão nos EUA.
5. Buscar informações, questionar, e entender o ativo intangível como um trunfo de sua empresa!
No momento decisivo em que está cheia de dívidas, correndo o risco sério de perder todo o seu empreendimento, é que Joy decide pesquisar informações e se aprofundar na matéria de patentes e propriedade intelectual. É aqui que ela descobre que o advogado passou informações erradas sobre o assunto. O esfregão muito similar, protegido em Hong-Kong, não estava protegido nos EUA.
Quando ela toma as rédeas do próprio destino e resolve a situação com os representantes fraudulentos, ela pode finalmente usar e explorar a própria invenção tornando-se, hoje, uma grande inventora com várias patentes protegidas no USPTO.
O filme ensina que, além de uma história de superação, propriedade intelectual não é um bicho de sete cabeças, mas que se não abordado estrategicamente desde a concepção do modelo de negócios, pode se revelar um grande problema.
Aline Schraier de Quadros
é advogada de Propriedade Intelectual, formada na UFPR e Universidade de Coimbra, tem experiência nas áreas de Propriedade Intelectual, Estratégia, Transferência de Tecnologia, Contratos e Direito Empresarial. Conecte-se com Aline pelo LinkedIn.
Taise Schraier de Quadros
é estudante de Engenharia Bioquímica na Universidade de São Paulo, EEL-USP, faz parte da equipe HQ Advisory. Conecte-se com Taise pelo LinkedIn.
Esse texto “5 lições de propriedade intelectual com o filme Joy” é livre e open source. Você tem permissão para republicar esse texto sob licença Creative Commons (https://creativecommons.org/